quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Não é?


Levantou-se, saiu.

Depois de tantos desaforos coisa e tal, era melhor ir embora. Não adiantava tentar demonstrar sentimento àquele que não conseguia compreendê-lo. Entendia que depois de tudo escutado e tudo dito não tinha mais nada a ser sentido.

Ela esperaria se recuperar, como uma tentativa sôfrega de se livrar de uma droga, um vicio imenso. Sonharia ainda, depois de tudo, conseguir se entender, coisa meio idiota a se fazer quando se tem um coração quebrado, partido; ela iria continuar modificando vidas, como sempre o fez, mesmo calada, no seu canto. Porém, ela tinha aquele poder, e onde tocava, mudava. Mudaria, de novo, ela sabia, todos sabiam. Não era pra ser diferente, não é?

E quando menos esperasse iriam se encontrar em uma primavera ou outono qualquer, debaixo de um sol escaldante, que faz os sentimentos incendiarem e virarem cinzas, ou então, debaixo de uma garoa fininha, dessas que ferem como pequenas lâminas que machucam a pele, e claro, cruzando olhares se distantes; se perto, iriam trocar um cumprimento qualquer, sem mais delongas. Afinal, depois de tantas coisas, o que acontecia já não tinha mais força pra prosseguir. Não havia mais nada de nada. Nada dela, nada dele. Nada dos dois.

Ela iria, depois de tudo, pra casa, novamente sem compreender, choraria o mar, como uma boba, patética, inútil. Os olhos dela, novamente conheceriam o vermelho freqüente, aquele que sempre a habitava, sem pedir permissão. Sentada, parada. Parada, como sempre.

Rendida.

Doía, é claro.

Mas me diz, não era pra ser diferente, não é?

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Todos desolados e pobres enfim.


E em dias de chuva como estes ficam mais fortes os choros e gritos, e tão presente a ausência deste tudo!

Porque quando se quer muito algo, não importa como, o que deveria ser pouco para os demais é tanto pra que tem a necessidade...

Conforma-se com o que tem, deixa de buscar, porque parece que a mão não alcança o que só os olhos conseguem ver, desiste. Ela, ela mesma, que não sabia bem como agir, que não entendia e fingia não se importar, meu Deus, era a que mais sentia. Estava no ar, sabe? Nos olhos, na boca, no cheiro, no gosto, no corpo inteiro. Estava na alma, naquela alma cheia de dramas e coisa e tal. Naquele ar de terra de molhada, de vento seco, dia nublado. Céu sem cor. Eram naqueles dias que ela se encontrava, e nas cobertas, ela pensava, patética. Vestia-se, fantasiava-se, tentava persuadir, enganar, manipular. Ela se cobria inteira da personagem que criara. Proteção.

Abria os olhos e pensava. Lia, escrevia, fazia qualquer coisa para que parasse tudo isso, para que de alguma forma se encontrasse. Ela nunca entenderia. Ela nunca entendia, e isso é a angústia: que ninguém nunca se encontra. As pessoas sempre se enganam nesse quesito. É inegável admito, eu, como observadora desse circo digo, o amor vem como um palhaço, totalmente maquiado, doce no começo. Depois do show de belas sensações, se retira do palco e revela-se comum, nada mais é que um desolado, triste e velho, cansado, e ao tirar a maquiagem, pobrezinho, deita e sonha. Doloroso são aqueles cansados e mortos que continuam com doces ilusões. Frágeis aqueles, perdidos e desvairados, que sonham um dia encontrar-se em corpos alheios, quando nunca, sequer, encontraram-se dentro de si.

sábado, 25 de setembro de 2010

Com brilho, sem dor.


Acontecia o seguinte. Ela brilhava. Não como esses brilhos falsos, baratos, de vidro ao sol. Ela brilhava como diamante. Daqueles que ofuscam, que cegam. Que enlouquecem quem vê, fazendo brotar a louca vontade de ter aquele brilho pra si. Ela brilhava, entende? Não você não entende. Quando chegava a noite, e o escuro dominava os corações atordoados de dores e desamores, naquela maldita escuridão, ela surgia. E então iluminava. Ela olhava, e a lua, junto com ela, criava luz. Iluminava também, como neon. Toda neon. Ela era diferente dos outros que se ligavam ao dia, aquele sol que queima a pele, que machuca. Ela, ela não doía, ela toda era um punhado de tudo e nada, sabe? E se ligava na noite. E brilhava.

Com o vento vindo em seus cabelos, ela mesma sentia o cheiro deles exalarem, frésia, disse. Ou pensara, não sabe. Perdia os sentidos quando brilhava. Ela respirava, com sofreguidão, cansaço talvez. Ninguém nunca sabia. Mal sabiam seu nome, aqueles da rua, nunca sequer perguntaram qual era o nome dela. Talvez eles não vissem o brilho. Ou talvez, vissem, e com medo de ficarem cegos com tanta luz, se afastavam. Na verdade, provavelmente, eles fechavam os olhos, se negavam a ver. Simplesmente ignoravam, não queriam observar. Ela não, ela observava todos eles.

Toda noite ela ia ao mesmo lugar, naquele escondido do mundo. Era um lugar dentro dela, compreende? Escuta, você tem que entender. Ela, que não tinha dor, que não tinha asas, que não tinha sonhos, brilhava! E de dentro dela, no meio da luz, expurgava o que era segredo. Expurgava dela-e-pra-ela o que incomodava, ou o que simplesmente não tinha mais condição de ficar dentro dela. Porque tem certas coisas que precisam ser escondidas, pensara. É necessário esconder o que se sente, porque quando falares não vão entender. Me escuta, a voz dizia. Te entrega, repetia.

Todas as noites, no brilho intenso ela sentia o mesmo sussurrar, e tinha medo, pela primeira vez. Se entregar é complicado quando a entrega é única e solitária. Porque quando não há ninguém, é mais perigoso. Conviver com os próprios fantasmas é arriscado. E se entregar a isso, bem... Ela nunca entenderia o que alucinava mais, o brilho da solidão ou o queimar do sentimento. Talvez nenhum. Talvez os dois.

Talvez. Talvez o caminho seja esse afinal. É desse jeito, pensou. No fim, de qualquer forma, todo mundo, exatamente todo mundo, morre sozinho ou fica sozinho. Sem pessimismo-dramático agora, estamos em uma realidade óbvia, sentiu. Se entregar agora si seria melhor, era evitar o tempo perdido, experiências fatigadas, e mais, dores. Em outros, porque ela não sentia. Ou não queria, não se sabe. Nunca se soube.

De qualquer forma, o que importava na realidade substancial era que, por mais que se queira, por mais que se busque, e o que ela acreditava que todos faziam, constantemente e diariamente, não se encontra. Ela observava, com aquele olhar seco, caído, todos aqueles brutos e abençoados que buscavam achar em alguém o que nunca seria encontrado. Tinha pena. Nem todos entendem a entrega, pensara. Porque tem certos rios que secam também. E alguns, que nunca nasceram.

Um dia, decidiu. No ar, no ar era melhor, com o vento vindo, ela respirou. Invadiu-a.

Suspirou, exatamente assim.

Se entregou, de uma só vez.

E brilhava.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Aquele.

Ele chegou em casa, tirou os sapatos, as meias, como sempre. Queria se livrar do cansaço, daquilo que apertava o andar. Caminhar sempre desgasta quando se anda sem rumo. Sem sentindo. Depois de um dia cansativo, de uma rotina de trabalho de oito-horas-seguidas, sem parar, era só chegar em casa, tomar um banho. Era um evento importante. Não podia ser assim, sujo. Tão sujo! Água gelada, cai no corpo, tenta limpar, tirar aquele suor imundo, de gente que luta todo dia em vão. Luta pra porra nenhuma, na verdade.

Sai do banho. Veste uma roupa, não uma qualquer. Tinha que ser importante, pelo menos isso, pelo menos algo. Algo na vida, algo depois de tudo. Com rapidez, pega o cigarro, o isqueiro e um cinzeiro da mesa. Acende. Deixa queimar, as cinzas aparecendo, aprecia. Já reparou como cigarro queima? Arde na boca, ás vezes. É um beijo, daqueles beijos que te sugam, que tira o ar. Viciante, ele pensara. Em companhia aquele beijo quente do cigarro, tinha o wisk. Desses, baratos, pra atordoar, fazer esquecer, tirar da lembrança aquilo tudo. Porque quando se quer esquecer algo, ou melhor, alguém vale tudo, vale qualquer coisa. Vale até quebrar-se em mil pedaços pra depois, diferente de todo mundo, não juntar os cacos. O segredo é pisar em cima, ferir o pé, deixar sangrar. Sangrar tudo que tem pra sangrar, compreende? Deixar cortar. Deixar.

Bem, naquela gaveta era o que ele procurava tanto. Era pegar a chave, que sempre andara com ele na carteira, do lado daquela foto pequena e antiga, e pronto. Seria perfeito. O plano perfeito. Plano esse de que nunca mais planejara nada, de que, de tão perdido, mal pensava. Abriu a gaveta, de-va-gar, pegou a arma. Tinha que ser essencial fazer disso especial. Ou tentar. Nada, nunca fora especial, nem no começo, nem no decorrer. O fim deveria. Ao menos isso; colocou a bala. E um último pensamento surgiu, aquele. Porque depois de tudo, quando não se tem expectativas de mais nada, quando se perde a fé, quando se morre aos poucos, e dolorosamente, morrer de uma vez só não é nada. Ou tudo, quando se tem alguém. Ele era sozinho. Logo, não precisava se explicar, pensara. Deus entenderia. E foi. Um barulho. Aquele que dói. Na alma, no corpo. Pra quem ouve, assim como eu. Mas como foi tão rápido e efetivo, não se sente mais, um estouro, pra ele. Sem dor. Sem mais dor. Aquele barulho. Aquele. Aquele que rasgou o apartamento em dois. Aquele que o rasgou em dois, me levando junto.



Exatamente, aquele.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Ausência.


Porque a gente, depois de um tempo passa a duvidar. Duvidar do que pregam por aí sobre romance, entende? Depois de tudo, de tanto desamor, não da sua parte claro, mas dos outros, esses outros por aí, você começa a duvidar. Duvidar de filmes, de livros e todos os finais felizes que se tem notícia. Começa tudo bem, doce. Tão doce... Depois, é um gosto amargo, daqueles que arrepiam, e a vontade que dá é de jogar tudo pra fora. Além da ferida que nunca cessa, comecei a pensar no que poderia estar errado. Acredite, acho que o amor não é nada além de uma invenção ridícula e perturbada. Não tem sentido. Não serve pra nada. Apenas pra nos causar essa dor, nos enlouquecer, ou na verdade, me enlouquecer. Ou talvez, o que eu acredito com maior veemência, enlouquecer aqueles que não são correspondidos. Acreditar. É preciso acreditar. Mas diz isso pra quem há muito tempo perdeu a fé nisso. Nesse sentimento. Diz.

Sabe, eu não posso mais continuar nisso, é preciso arquitetar um plano de fuga qualquer, algum plano para me livrar desse imenso teatro que estamos encenando. Porque eu não consigo continuar fingindo. Fingindo que está tudo bem, que estamos bem. Eu vou te dizer, eu me perdi sim. Porque eu não quero mais me importar, entende? Criei armadura, dessas fortes, de ferro. Daquelas que pra ultrapassar, só quebrando. E aí que tá! Não vai quebrar. Para de tentar, não vai. Eu não quero, e não vou deixar que quebre. Sabe por quê? Porque nessa história toda perdida-e-mal-acabada de que minha vida é feita, eu não tenho a menor vontade de buscar quem eu era, quem sou, e como me sinto. Não me interessa mais. Porque pra isso eu teria que ultrapassar toda essa instabilidade, minha, tua. Nossa. E mais, teria de investir pesado pra resgatar do passado o que me afeta no presente e me destroça no futuro.

E isso, eu não vou fazer. Não quero fazer. Não vou, não, não vou.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Ela.


Ela era extremamente sarcástica. Não tinha medos, sabe? É do tipo que não se encontra por aí, e que todo mundo admira-negativamente-ou-positivamente, não sei, mas que ninguém compreende. Tinha olhos negros. Daqueles escuros, que guardam algo que bem, não se decifra. Tão escuros que na imensidão daquela escuridão, a gente se perdia. Não dava pra ter qualquer luz. Não se via nada. Era compulsivamente-individualista, porque ela tinha algo, algo assim que mostrava que antes fora diferente... Era um enigma. Porque quando se acostuma ao normal, o incomum assusta. E era nítido, ela era perdida. Mas quando queria, se encontrava. Ou não. Algo aconteceu, entende, alguma coisa, e ela mudou. Ela nunca, nunca abria a boca para falar, e nunca falava. Talvez fosse por falta do que dizer, ou, porque se começasse não terminaria. A questão é que ela simplesmente era diferente de todo o resto. Não pertencia a esse lugar, ela não deveria nem estar aqui. Porque era superior. Porque sabia de tudo que acontecia ao seu redor, ela sempre, sempre sabia. Na sua presença toda perturbada de quem ignora agora qualquer tipo de fulgor, se afastavam por não saber como agir perante ao frio, quanto todo mundo só conhece o quente. E de tão frio, acredite, ela queimava.

E, no seu silêncio en-sur-de-ce-dor todo o resto, o resto todo, se calava também.

Porque nem sempre.


Porque tem dias que parece que está tudo nublado. E eu começo a lembrar... E penso se poderíamos ter tido um desfecho diferente. Talvez poderíamos, em nosso livro, não ter rasgado a página final, assim, tão bruscamente. Foi leviano. E doloroso. Não acha? Talvez poderíamos ter nos importado mais, ter nos amado mais, sabe? Aliás, nos amamos? Você amou? Na verdade, são certas coisas as quais eu procuro não pensar, porém vezenquando atormenta. Atormenta, e machuca como um soco no peito. Aqueles que deixam a gente sem ar, e por um súbito momento, você para de respirar. Mas depois, como em um suspiro, volta o ar. Outro dia eu fico esperando, na janela do quarto, alguém bater no portão, pra eu abrir e ser você. E é nesses dias que eu espero mais. Uma espera inútil, insaciável. Mas, como mágica, acontece pra mim. Então, você entra, e me toma inteira, e aí, traz um novo livro, inteiramente em branco, com capa dura e canetas coloridas. Dá pra escrever agora, diferente de tudo, você diz.

E a gente escreve. Sem medo de errar, devagar, pra letra sair bonita.

Tá tudo bem. Tudo muito bem.

Não vai acontecer, eu sei.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Tarde.


E olha, depois de tantas perguntas paranóicas nos rondando, depois de todo esse destemor e essa falta de juízo, meu e teu, resolvi de vez abandonar essa trilha. Porque tem horas que cansa, e se você não abre mão, acaba sendo puxado junto. Como um braço mecânico que quer te afogar no meio disso tudo. Um mar de medo, de desprazer, de passado. E eu não estou afim, porque agora, agora eu comecei a pensar em mim, e não mais em você. Parei, sabe? Porque te juro, realmente houve um tempo em que só existia você. Eu respirava você. Eu dormia pensando em você, e já acordava sabendo que eu queria você. Admirava você. E eu te procurava. E meu Deus, parecia loucura, a forma absurda de como eu amava você. Só que um dia percebi que eu lembrava tanto, mas tanto de você, e esquecia totalmente de mim. E você não lembrava, não pensava, não amava. Não a mim. Ok, eu só estou abrindo mão. Porque por mais que importe pra você agora, pra mim, simplesmente não significa mais nada. Porque se você parar pra sentir, vai ver que agora é tarde demais pra perguntar. Tarde demais pra obter respostas. Tão tarde!

Tarde demais pra você em mim. Tarde demais pro meu eu estar em você. E mais, tarde demais pra nós.

É.

domingo, 19 de setembro de 2010

Dialogando. Diga-logo-amo.

P – Você me ama?

M – Eu te amo?

P – Ama?

M – Se te amo?

P – É, eu estou te fazendo uma pergunta.

M – estou ouvindo, estou te fazendo outra também

P – E qual sua pergunta?

M – Você me ama?

P – Amo?

M – Ama. Não ama?

P – Amo. Por que pergunta se já sabe a resposta?

M – Pra ter o prazer de saber.

P – Você não me respondeu. Me ama?

M – Você perguntou?

P – Sim, perguntei. E to perguntando de novo agora

M – Quer saber se eu te amo?

P – Sim, quero

M – Você também já sabe a resposta. Porque pergunta?

P – Porque eu quero ter o prazer de saber.

M – Saiba então

P – Diga

M – Digo

P – Fale

M – Falo. Agora?

P – Sim, agora.

M – Eu te amo. Satisfeita?

P – Não. Você só disse. Agora, prove.

M – Como vou provar isso?

P – Você vai descobrir... Sinta, e mostre. Assuma algo. Pare de tanto orgulho.

M – Eu te amo. Muito.

P – Sim você já disse isso...

M – Mas estou te assumindo algo agora. Exatamente agora.

(...)

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Hoje.


Seria mágico, se não fosse tão trágico.

É o seguinte, meus queridos, todo mundo aí fora está fazendo algo. Enquanto eu, aqui, parada estupidamente, esperando que algo aconteça e mude meu rumo, meu destino, mude essa vida. Procurando em livros legais, citações de filmes ou qualquer-coisa-que-aflore-minha-sensibilidade o que eu perdi. O que eu nunca vou encontrar. De fato, a essência é algo que escondi tão fundo, tão fundo, que eu não alcanço mais. É algo que não dá mais pra tocar com as pontas do dedo; o que antes até era possível, hoje não é mais. E se eu tentar buscar isso vou entrar em um emaranhado de pensamentos, experiências, dores, lágrimas e eu sinceramente não quero lembrar. Não quero buscar o porquê. Não quero saber das suas desculpas, dos teus medos, dos seus arrependimentos. Na verdade, com o perdão da palavra, estou me fodendo para o que você está sentindo agora. Pode me chamar do que quiser, eu não me importo. Me importei um dia, hoje não mais. A única coisa que busco aqui, embora egoísta como dizes, é o meu eu. Que mude tudo. Sim, espero por isso. Houve um tempo em que eu fazia mais, tentava mais... Mas cansa, não é? Tem um dia que cansa, entende?

O dia é hoje.

domingo, 12 de setembro de 2010

Evito.


Olha, eu preciso lhe dizer rápido, antes que o tempo cesse e eu não possa mais falar. Você tem atingindo um ponto importante meu. Eu não sei bem como dizer-te. Mas preciso, necessito tanto te falar. É, eu sei, eu sei. Já disse isso várias vezes também, mas dessa vez é totalmente diferente. Olha, não gosto de exposições, você sabe. Mas é que você está dentro de mim e cresce como uma fruta que amadurece e se torna cada segundo mais doce, e depois, depois apodrece, perdendo o cheiro, o sabor, caindo no chão. Você tem tomado minhas noites, tem roubado meus pensamentos, e eu preciso dizer-te que quero que as devolva. Quero que devolva meu sono, minhas memórias, quero que devolva o que sou e o que fui. Quero voltar àqueles dias de bebedeira regados a Marlboro, fumando até atingir o filtro, apagando o cigarro na mesa. E apagando-me também, ao mesmo tempo. Ironicamente. Sei, estou sendo mais uma vez egoísta, mas você consegue ver o que está acontecendo, meu amor? Estamos por demais nos entregando, e quando maior a entrega, maior o risco a correr. E eu não posso correr outro risco igual, meu bem, eu já corri demais. Demais. E correr demais, no final dá um cansaço. Tem que parar. Antes que eu, como fruta podre, caia direto ao chão. Sem gosto, nem odor. Ta tudo bem, de qualquer forma, sem dor, sem dor...

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Saudade.

Saudade dói.

É sentir cada partícula do seu corpo arder, é se preocupar com ela, é querer estar, ser. Tá tudo bem? O que tem feito? E os remédios, tem tomado? E as tias, como estão? Fala pra mãe que eu to tentando, fala que eu continuo, mas que tem vezes que é tão difícil... Mas por ela, e por você, juro, eu crio forças, forças que nem eu sabia que tinha.

Saudade que sufoca. Sufoca tanto!

A garganta rasga, o coração dilacera e rui em um segundo. Me dá um medo!

Veja, eu não posso te perder em meio a tudo isso, eu não conseguiria, entende?

Porque eu posso perder tudo, exatamente tudo, menos você.

Saudade de saber como andam as coisas por aí, de saber o que seus olhos tem visto, o que suas mãos tem tocado. Tem saído? Viajado? Eu sinto falta, sabe? As mãos, lembra? Eu pegava em suas mãos e via as minhas, daqui à algum tempo. Mãos de quem lutou, de quem passou por tantas e tava ali, de pé. Ainda que com um olhar triste de quem vai se despedir, mas que ainda quer deixar tudo bem. Sim, tudo bem.

Mãos essas que me tocaram com tanto carinho um dia...

Saudade do abraço forte, dos olhos que me entendem sem eu precisar dizer nada.

Saudade de sentir o cheiro do café forte vindo da cozinha, de ouvir batidas na porta do quarto me chamando e falando que lá fora ta fazendo o maior sol e que está na hora de ir brilhar com ele. Saudade das comemorações de natal, da minha cabeça em seu ombro, de pegar na sua mão e te guiar pela estrada, com todo cuidado e amor que eu só poderia ter com você. Saudade que me faz ter insônia, com vontade de ligar, sim, eu sei, está tarde e você precisa descansar...

Eu sei, sou fria. Ou me faço de fria por medo de demonstrar-te. Já demonstrei tantas vezes, e te digo, quando mais demonstrei mais as pessoas foram embora. Sim, eu sei, as pessoas sempre vão embora. Mas você não. Você não pode ir.Eu não quero que você, como os outros, vá embora. Porque sem você, eu perderia o controle, entende? Acredite, é tudo tão quente, tão forte aqui, em mim. E hoje, tudo que eu queria é poder dizer o que você me faz sentir. De uma forma ou de outra, entenda, o maior afeto que eu poderia ter por alguém nessa vida, nesse mundo inteiro de tanta sujeira e mentira, não, não, espera, escuta, o maior afeto é por você.

Pare, você sabe do que estou falando. Não estou querendo te fazer chorar, mas é que eu preciso dizer isso aqui, dentro, sabe? Porque está me matando essa falta.

Saudade. Arrependimento. Tempo sendo perdido. Passado. Presente. O tudo.

E meu Deus, quanto tempo mais? Deus, me diz, ME DIZ quanto tempo mais?

Saudade de não saber o que fazer para parar de sentir, porque é algo que só se cura na sua presença. É me partir em mil fragmentos, e cada um deles ir te buscar e te trazer pra perto mim. E ai, aí esses pequenos fragmentos, tão minúsculos, esses mesmo que cortam as mãos quando se tenta pegar, se unem, sabe? Eles simplesmente se unem. E me dá saudade, aquela saudade de colar no seu cheiro, e pedir baixinho no seu ouvido: “reza por mim, reza. Eu estou perdida demais, te peço, reza.” Saudade dos seus olhos preocupados com o que eu digo, e me olhar, e na mais santa sabedoria dizer: “eu sempre rezo. E você sabe, assim como eu atravessei tudo isso, vai passar pra ti também. Não se faça de cética. Eu te conheço muito bem minha menina. Te conheço mais do que qualquer outro vai conhecer. Eu sei que dói. Mas passa”. Sim passa. Eu sei que passa. E aí, sem palavras, eu só encosto-me ainda mais em você, me aconchegando em seu ombro, agarrada no seu braço como uma criança que tem medo de algo ruim acontecer, que tem medo do escuro. E assim, só quero ser. É, ser igual a você. Ou ao menos parecida. O mínimo, que já seria o máximo - ser como você. Me impregnar inteira de sua presença que nada tem de vaidade, egoísmo, ou qualquer outro sentimento que fira. É puro. Puro de amor, puro de paz, puro de compaixão. Puro de fé. Você tem fé, e é lindo. E você ter fé me faz ter fé também. Eu te peço, não pare. Não pare porque senão eu não vou conseguir, você sabe, e vou parar também. Você é o que me move, é os meus dois braços. E se tirarem meus dois braços, eu não vou mais conseguir nadar nesse mar tão grande e de água tão escura e gélida.

Deus! Que saudade.

Saudade de conversas, sorrisos, aquele, aquele seu sorriso, aquele que eu gosto.

E do olhar... Meu Deus, o olhar. Aquele, doce, leve. O olhar que me impulsiona, fazendo meus dias se arrastarem pra poder ver de novo, que me faz rabiscar no calendário, dia por dia, pra poder me sentir parte, me sentir inteira. Acaba logo querido ano, acaba. Que passe setembro, que passe outubro, novembro e que chegue dezembro para nos trazer paz.

Porque, enquanto isso não acontece, minhas mãos sangram de continuar batendo nessa porta de ferro, me fazendo tentar quebrar esse o tempo frio e cruel, que faz eu me perder a cada dia, e acordar chorando, respirando com dificuldade, em uma arritmia que me consome. Porque enquanto isso, tudo que eu posso fazer, é guardar em mim tudo que eu tenho de ti. Aqui, bem aqui dentro. Sente isso? Escuta, eu to terminando já, sei, você tem que dormir. Só, veja... Tudo agora que quero é tentar passar por tanto medo, por você. É tentar por você. É tentar ao menos um pouco do que você já tentou por mim.

É ser eu em você. É você em mim. E Deus, como dá saudade...

E não nego, apesar de tudo, ainda assim, dói. Muito.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Medo.


_____________________________________Não queria de novo. Sabia o que acontecia depois do adeus. E sabia o que acontecia quando se tenta agarrar nas mãos, foge do alcance. Não queria de novo. Não por não sentir mais nada, mas porque era uma dor conhecida. Tinha se livrado dela há muito tempo, não queria de novo. Preferia o adeus – adeus distante, daqueles que só fica lembranças -. Iam se ver na rua, trocariam um oi, e um viraria a esquerda, outro a direita; seguiria pro trabalho, com aquele velho olhar de quem tem uma rotina pra cumprir, chegaria em casa morto, enche a cara na vodka barata e fuma um Marlboro qualquer. Não queria lembrar daquele adeus, e nem de tantas tentativas falhas, que frustraram os dois aquele ponto. Ponto esse de um adeus em lágrimas, uma história mal acabada, que faria, ao menos possivelmente, os dois solitários pra sempre. E de fato, foram. Aquele adeus doeu pra sempre. Queria apenas sentar na velha poltrona, acender mais um cigarro. Outro. Pensar? Não, não deveria pensar. Pensar a lembra. E isso, não dá pra controlar... Não queria de novo. Pra depois acontecer o mesmo, achar-se nos braços de alguém que te faria esquecer por momentos, pra depois vir a crise maior. Uma abstinência que doía nos ossos, na pele, no peito, na alma. Não queria outra vez. Não queria despedaçar-se inteiro e depois reconstruir sonhos. Demoraria, e ele não tinha tempo. Doía, feria demais; e ele não queria de novo. Não outra vez.

Gana.


E me dá uma vontade louca de você.

Vontade de cuidar, construir. Ai, que vontade!

Vontade do abraço apertado, do beijo sem tempo pra acabar.

Me dá uma vontade grande, daquelas conversas sem sentido, daquelas bobeirinhas que só a gente entende o significado. Me dá, te dou. A troca é maior quando se ama assim. É tudo tão implícito, explicito. O toque no rosto, a pele-com-pele, tudo se completando, se fazendo em um minuto. Como duas almas que se buscavam, e agora que se encontraram se consomem de todas as formas possíveis. E Deus, me dá uma vontade inexplicável de você.

Porque tinha que ser assim. Era pra ser assim. É assim.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Vamos caminhar?


É sair de tanta incerteza que nos consome, deixando de lado o resto, para poder caminhar com passos maiores, com passos largos. É alcançar o fim, visto agora a olho nu, aquele ali, que fugia das nossas mãos sempre e fazer diferente dessa vez, conseguir tocá-lo, e realmente chegar a algum lugar. É poder construir um castelo inteiro sem medo de fantasias, desmoronamentos, de ventos fortes, ou de dragões que possam derrubá-lo. É arriscar-se inteira, e se cair, recomeçar de novo, tijolo por tijolo. Sem medo dessa vez. Sem covardia. Certas vezes, é preciso dar a si mesmo o que lhe é merecido. Aceitar coisas boas sem tentar entender o porquê. Esse é o começo, e é preciso ter continuação, e mais, é necessário ter um final feliz. Pra mim. Pra você. Pra nós.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Madrugada.


E agora, no calor da madrugada, eu sinto as mãos procurarem algo ao lado, sinto a busca incessante desse algo para que suprima todo esse vazio na cama. E é no calor da madrugada, que, em silêncio, choro baixinho, com medo dos gemidos e grunhidos de animal ferido, animal que teve a lança enfiada no peito. É no calor da madrugada que tento entender o que se passa na minha cabeça, que conto pro travesseiro de maneira sem sentindo e sufocante, engasgando nas palavras, tudo que tem por demais me ferido, tudo isso que nos tornamos, tudo que fomos um dia.

É nesse calor da madrugada que eu sinto o vento vir assombrar meus sonhos trazendo seu cheiro, sua voz como algo que está apagado e que vem ressurgir para lembrar que foi real. É nesse calor da madrugada que viro pó, cinza viva. Porém, não é no calor da madrugada que renasço como fênix, mas sim, me acostumo ao que me transformei, ao que sou, mesmo sentindo cada pedaço do meu corpo doer. E é nesse calor que me queimo, e desapareço, como velha memória apagada no ar. Ah, o fogo...

domingo, 5 de setembro de 2010

Amargo.


E mais uma vez, pleno domingo, via sacra, igual de Cristo, a mesma merda de dia, onde todos os malditos domingos são sempre iguais. A mistura de tédio-sem-pura-afeição&inspiração, com vinho aberto há três dias e cigarro queimando nos lábios. E depois, resta tomar um café, daqueles fortes, que amargam na boca, para amenizar a falta de apetite de tudo. Falta de apetite de coisas banais do dia-a-dia, de sair, de experiências novas. De pessoas. De você. Falta. Falta tudo, falta nada. E nessa falta eu me completo. É aqui que me encontro. Parada, pensando, justificando. Querendo. Queimando igual papel em fogo. E no final, cedendo. Cedendo sempre.

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sábado, 4 de setembro de 2010

Que seja diferente. Sim, que seja.


Vai retribuir? Diga-me.

E aos poucos, trancos e barrancos, o coração cansado de amar em vão, vem se sentindo confortável de novo. É tão assustador isso! E aquelas juras de que jamais iria amar de novo, de nada valem agora, não é? Amar muito quando me é permitido, quando não mais me é proibido, poderia mudar caminhos. Eu lhe falo, hoje, com toda a certeza: esse sentimento está me tomando por completa. Eis que lhe pergunto, está ciente disto? Porque meu amor eu já me senti assim um dia, juro. E eu desejei muito alguém. E foi tão bom! Só que a outra pessoa, esqueceu-se de me desejar de volta. Nesse ponto, foi tão doloroso, meu amor. Foi nesse ponto, que eu chorei. Chorei tanto. Não quero chorar de novo, não. Eu quero continuar sorrindo ao seu lado, quero sim. Quero poder-te dizer coisas bobas, mas que quando estamos juntos fazem todo o sentindo. Você vê o que está acontecendo conosco? Quero saber, estais pronto a retribuir? Diga-me. Eu posso alimentar isso que hoje me consome? Posso? Devo? Diga-me meu amor, diga-me enquanto a noite não chega, porque ao seu lado estou bem, não quero que amanheça e o sol venha me cegar de novo com uma luz falsa. Não, não quero que sejamos como um dia fui em outra história. Aquela história.

Porque dessa vez é pra ser diferente.

Porque dessa vez, vai ser diferente.

Nostalgia.


É engraçado lembrar. Ver as velhas fotos, rostos conhecidos, pessoas que marcaram. Marcaram por bem, marcaram por mal. Achar as cartas antigas, aquelas que juravam amor eterno, um eterno que se apagou diante do vento forte. Culpa de quem? Minha? Tua? Tempo? Culpemos o tempo. Assim não carregaremos, nem eu e nem você, a culpa por um distanciamento bastante doloroso. Culpemos qualquer um, qualquer coisa, só vamos despejar tudo isso que nos sufoca sobre alguém. Menos mal assim. O problema das lembranças é que quando elas teimam em entrar por uma porta há muito tempo fechada, não importa se trancada ou não, acabam por conseguir abrir. Elas têm um tipo de chave especial, aquela que se encaixa perfeitamente na saudade. Abre fácil! E a porta, que foi construída especialmente para ser forte, não passa a ser uma mera vidraça diante de um turbilhão de sentimentos em muito esquecido. Vidraça que se quebra, frágil. E ouvir aquela música, aquela recitada ao pé do ouvido, ou ler aquele poema, é, aquele feito em um guardanapo, ou qualquer coisa que faça esbarrar no que estava adormecido faz voltar, aquele exato momento em que tudo aconteceu... Como aconteceu? Eu ainda sinto aqui, viva e nítida todas essas expressões, impressões. Invenções...

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Nosso.


Sabe aquela coisa legal de sentir? Acredite, estou sentindo hoje. Talvez pelo toque de mão trocado, o olhar em peito rasgado e as palavras que pediram por cuidado. Aceitei cuidar. Aceitei construir. Aceitei passar por tudo, enfrentar tudo da forma mais bonita que eu sei fazer. Errar sei que posso, mas não quero. E não vou.

Não é querer me impor nisso, não, de forma alguma. Acontece só que depois de tantas quedas em asfalto vivo, depois de tantos tombos de quebrar o coração todinho, resolvi levantar e caminhar mais, vendo mais a frente, atravessando toda essa rua de desprazeres. E me deu certo sentimento de Esperança, compreende? Só que por mais ilusório que esse sentimento possa parecer, resolvi vivê-lo enquanto ele não me deixa, enquanto você não me deixa. É tentar fazer das coisas simples as mais belas possíveis ao seu lado.

É tentar transformar eu, em seu. Teu, em meu.

Meu e seu, em nosso.

Nadar, nadar.

O coração quer boiar, que continuar nadando. Quem sabe, se eu bater forte os braços nessa água, nesse mar imenso que estamos a nos afundar, e distanciar os corpos, quem sabe, eu possa encontrar uma terra firme adiante a qual possa pisar, e parar, parar de afogar. Mas não lhe prometo nada. Não, não lhe prometo.

Confesso.

Confesso que hoje o sol não brilhou.
Que hoje nada aconteceu, e novamente fiquei em expectativas que não se solidificaram.
É atordoante esse sentimento de ineficácia, de falta de atitudes ou gestos que me fazem pensar o contrário. E pior do que isso, é imaginar que dentre tantas razões para pensar, penso naquela que menos ajuda; É inegável que hoje é um dia triste. Com toda certeza.
Dia triste pra pensar, pra acordar, pra viver. O bom de tudo é ficar dizendo coisas sem sentindo, saber que o coração tem desacelerado e que os pés, que antes andavam tanto, chegaram ao ponto de não aguentar mais e pararam diante de caminhos tortuosos.
É, confesso que hoje o dia não está pra mim.


Ou melhor, corrijo, não está pra nós.

When words lose their meaning.


Tem vezes que sufoca, eu sei. Chega a ser uma alienação, e algumas vezes causa dor. Por mais que machuque in-ces-san-te-men-te, fica mais turbulento nos dias frios e nublados, e quando o dia chega ao fim, acaba-se por seguir o mesmo caminho de espinhos que nos ferem nos pés. É impressionante o desejar. Enquanto você não supre essa vontade aterrorizante, esse aperto não para. Enquanto o toque do outro, o beijo do outro, o corpo do outro, as peles não se misturarem e palavras não forem ouvidas, não para. Enquanto o ser do outro não se faz teu, não para. Não, não para. É estranho, não? É uma força sugando suas energias, tirando seu sono, ofuscando seus pensamentos. Falta ar. E esse desejar passa a fazer mal. O problema, meu amigo, é quando você deseja tanto o outro e o outro, em um relapso talvez, esquece de te desejar de volta. Começa a machucar mais do que o normal, corroendo em feridas que quanto maior for o parâmetro do seu corte, maior o tempo de cicatrização; Logo depois de cigarros e bebidas, depois de procuras em tudo-quanto-é-lugar, depois de tantos naufrágios e tentativas frustradas o que fica é uma insensibilidade, um não-precisar dominante. Depois você faz juras. Juras e mais juras de que certas coisas não irão se repetir jamais, que dores cessarão o pulsar frequente. Não vai mais, juro. Acredita em mim, não vai. É controverso. Não é por maldade, juro. Não dá pra controlar, o que vai restando apenas nessa casca seca, dentro e fora, irremediável. Depois de tantos dissabores, de tantos traumas que alcançam um ápice inacessível de cura, o que tem ficado é um não-sofrer, uma frieza constante, um ar de quem chegou ao limite. Foi e voltou. E, como dizem por aí, quando machuca muito, no final, não dói mais.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Mar morto.



Pois é, eu acho que depois de tantas buscas inacessíveis os punhos têm ficado cansados de continuar tentando. Veja, não é covardia. Ou é. Não é medo. Ou é.

Simplesmente, meu amor, acho extremamente desnecessário continuar em um barco que está por demais afundado. Continuar lutando para nadar quando já estamos nos afogando faz tempo. Afogando em um mar salgado, um mar de desilusões, desgostos, dores. Despedida. Despedida é isso. Dói um pouco, eu sei. Se sei! Mas não se levante, não é necessário. Sabíamos disso tudo, não é? Desde o começo, o fim era previsível. Você sabia-eu sabia. Sentimentalismos a parte, a realidade é mais dura. Vem para nos tirar (ou colocar) desse abismo que cresceu entre nós, para nos esbofetear da forma mais ríspida, para cuspir em nossas caras todos os nossos fracassos. Eu sei. Não queríamos isso, tentamos. Tentamos muito, minha pequena. Tentamos até não conseguirmos mais respirar nesse mar, até os braços cessarem pelo cansaço da tentativa frustrada. Só não conseguimos; culpa? Não, nem minha, nem tua. Ou das duas. Só sei que nessa controvérsia de pensar, esquecemos de sentir.

Só...sentir.

Brasa.

É o seguinte. Vou te dizer uma vez mais. Eu lhe amo de um tanto quanto inapropriado. Esses seus lábios me vem e me sugam, e suas mãos são parte essencial para minha ponte imaginária em um paraíso desconhecido, suas palavras ficam suspensas na minha mente, como uma droga, causa alucinações. Nessa nossa vontade de fazer, de consumir o tudo em um único segundo; nessa confusão constante do real com imaginário. Deus, como cansa. Amor que é amor não deveria ser assim. Ou deveria?
Esse nosso tanto faz, esse nosso ‘deixa pra amanhã’ está por demais me matando.
É te ter. É não te ter. Eu lhe aviso: decida-se. Fale-me, claramente, diga-me tudo. Chega de deixar pra depois o que no hoje está parado.
Porque amanhã, essa incerteza que beira à loucura será parte do passado, e nada além de uma memória apagada no meio do caderno riscado que minha vida é escrita.

Escrevendo, perguntando...



Dizem que palavras têm o poder de fazer tudo que somos capazes de pensar. Pois bem, aqui nada além de pensamentos serão transcritos. Esses mesmo que se fazem presente entre um cigarro aceso e uma xícara de café, ou uma conversa no bar, ou um dia cinza em que se sai pra andar e começa a se pensar e pensar, sem achar respostas, mas perguntas. Perguntas também podem ser transcritas. Fazem parte do amadurecimento. Perguntar. É nessas horas que vem a chamada: inspiração. Se é que pode ser definido assim, é tão incerto isso. Escrever só pra fazer o tempo passar, pra trazer uma paz que me é totalmente desconhecida, pra poder liberar tudo que se faz confuso e conturbado dentro de mim. E ficar oca, oca, liberar todas essas palavras que deixam de ser meu domínio e passa a ser de quem lê. Ficar vazia. Vazia e só. Perguntar. Perguntar e só.

Mudanças.


Talvez ultimamente, as pessoas tenham se desprendido do sentido verdadeiro do que se faz diário. Antes um sorriso dado era uma questão de afeto, entende? Era algo importante, era algo no mínimo educado. Talvez tudo tenha se perdido, e vivenciamos novas experiências, estas, nos mudam. Mudam tanto que nem percebemos. Vamos nos tornando frios, insensíveis diante de tantos sentimentos podres. Alimentamos ódios, raiva, dores. Solidão. Muita solidão. Daquelas que sufoca, de doer o coração todinho. Algo até meio antagônico, a solidão a fazer companhia. Ora, não é de todo mal... Quando não se tem alguém que nos supra a necessidade de que estamos sujeitos, se inventa. Só que há um problema com mudanças: quando tentamos voltar a ser o que éramos antes acabamos por não conseguir, não por não querermos, mas por não ter mais jeito. É uma pena, não acha? Uma pena as pessoas se perderem, irem pro lado esquerdo quando deveriam ir pro direito. Falta sentimento. Será? A questão aqui é, que nessas idas e vindas de características que nos formam a essência vai ficando por demais esquecida. É uma dor tão grande se ver perdido quando tudo mais não faz sentido. Uma pena, realmente. Tem vezes que se cai, diante de pessoas e situações. Pra levantar é difícil, não? O corpo se torna pesado, a mente se torna confusa, os dias desleais. Acontece que não só em relação ao-sentimentalismo-bonito-que-o-amor-passa, vai além. Além de tudo. Além do nada. Doer? Dói. Mas dizem que passa, então, pra que se preocupar? Deixa o tempo se encarregar de fazer o que é o mais esperado: fazer passar.