sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Saudade.

Saudade dói.

É sentir cada partícula do seu corpo arder, é se preocupar com ela, é querer estar, ser. Tá tudo bem? O que tem feito? E os remédios, tem tomado? E as tias, como estão? Fala pra mãe que eu to tentando, fala que eu continuo, mas que tem vezes que é tão difícil... Mas por ela, e por você, juro, eu crio forças, forças que nem eu sabia que tinha.

Saudade que sufoca. Sufoca tanto!

A garganta rasga, o coração dilacera e rui em um segundo. Me dá um medo!

Veja, eu não posso te perder em meio a tudo isso, eu não conseguiria, entende?

Porque eu posso perder tudo, exatamente tudo, menos você.

Saudade de saber como andam as coisas por aí, de saber o que seus olhos tem visto, o que suas mãos tem tocado. Tem saído? Viajado? Eu sinto falta, sabe? As mãos, lembra? Eu pegava em suas mãos e via as minhas, daqui à algum tempo. Mãos de quem lutou, de quem passou por tantas e tava ali, de pé. Ainda que com um olhar triste de quem vai se despedir, mas que ainda quer deixar tudo bem. Sim, tudo bem.

Mãos essas que me tocaram com tanto carinho um dia...

Saudade do abraço forte, dos olhos que me entendem sem eu precisar dizer nada.

Saudade de sentir o cheiro do café forte vindo da cozinha, de ouvir batidas na porta do quarto me chamando e falando que lá fora ta fazendo o maior sol e que está na hora de ir brilhar com ele. Saudade das comemorações de natal, da minha cabeça em seu ombro, de pegar na sua mão e te guiar pela estrada, com todo cuidado e amor que eu só poderia ter com você. Saudade que me faz ter insônia, com vontade de ligar, sim, eu sei, está tarde e você precisa descansar...

Eu sei, sou fria. Ou me faço de fria por medo de demonstrar-te. Já demonstrei tantas vezes, e te digo, quando mais demonstrei mais as pessoas foram embora. Sim, eu sei, as pessoas sempre vão embora. Mas você não. Você não pode ir.Eu não quero que você, como os outros, vá embora. Porque sem você, eu perderia o controle, entende? Acredite, é tudo tão quente, tão forte aqui, em mim. E hoje, tudo que eu queria é poder dizer o que você me faz sentir. De uma forma ou de outra, entenda, o maior afeto que eu poderia ter por alguém nessa vida, nesse mundo inteiro de tanta sujeira e mentira, não, não, espera, escuta, o maior afeto é por você.

Pare, você sabe do que estou falando. Não estou querendo te fazer chorar, mas é que eu preciso dizer isso aqui, dentro, sabe? Porque está me matando essa falta.

Saudade. Arrependimento. Tempo sendo perdido. Passado. Presente. O tudo.

E meu Deus, quanto tempo mais? Deus, me diz, ME DIZ quanto tempo mais?

Saudade de não saber o que fazer para parar de sentir, porque é algo que só se cura na sua presença. É me partir em mil fragmentos, e cada um deles ir te buscar e te trazer pra perto mim. E ai, aí esses pequenos fragmentos, tão minúsculos, esses mesmo que cortam as mãos quando se tenta pegar, se unem, sabe? Eles simplesmente se unem. E me dá saudade, aquela saudade de colar no seu cheiro, e pedir baixinho no seu ouvido: “reza por mim, reza. Eu estou perdida demais, te peço, reza.” Saudade dos seus olhos preocupados com o que eu digo, e me olhar, e na mais santa sabedoria dizer: “eu sempre rezo. E você sabe, assim como eu atravessei tudo isso, vai passar pra ti também. Não se faça de cética. Eu te conheço muito bem minha menina. Te conheço mais do que qualquer outro vai conhecer. Eu sei que dói. Mas passa”. Sim passa. Eu sei que passa. E aí, sem palavras, eu só encosto-me ainda mais em você, me aconchegando em seu ombro, agarrada no seu braço como uma criança que tem medo de algo ruim acontecer, que tem medo do escuro. E assim, só quero ser. É, ser igual a você. Ou ao menos parecida. O mínimo, que já seria o máximo - ser como você. Me impregnar inteira de sua presença que nada tem de vaidade, egoísmo, ou qualquer outro sentimento que fira. É puro. Puro de amor, puro de paz, puro de compaixão. Puro de fé. Você tem fé, e é lindo. E você ter fé me faz ter fé também. Eu te peço, não pare. Não pare porque senão eu não vou conseguir, você sabe, e vou parar também. Você é o que me move, é os meus dois braços. E se tirarem meus dois braços, eu não vou mais conseguir nadar nesse mar tão grande e de água tão escura e gélida.

Deus! Que saudade.

Saudade de conversas, sorrisos, aquele, aquele seu sorriso, aquele que eu gosto.

E do olhar... Meu Deus, o olhar. Aquele, doce, leve. O olhar que me impulsiona, fazendo meus dias se arrastarem pra poder ver de novo, que me faz rabiscar no calendário, dia por dia, pra poder me sentir parte, me sentir inteira. Acaba logo querido ano, acaba. Que passe setembro, que passe outubro, novembro e que chegue dezembro para nos trazer paz.

Porque, enquanto isso não acontece, minhas mãos sangram de continuar batendo nessa porta de ferro, me fazendo tentar quebrar esse o tempo frio e cruel, que faz eu me perder a cada dia, e acordar chorando, respirando com dificuldade, em uma arritmia que me consome. Porque enquanto isso, tudo que eu posso fazer, é guardar em mim tudo que eu tenho de ti. Aqui, bem aqui dentro. Sente isso? Escuta, eu to terminando já, sei, você tem que dormir. Só, veja... Tudo agora que quero é tentar passar por tanto medo, por você. É tentar por você. É tentar ao menos um pouco do que você já tentou por mim.

É ser eu em você. É você em mim. E Deus, como dá saudade...

E não nego, apesar de tudo, ainda assim, dói. Muito.

Um comentário:

  1. Saudade é uma coisa que sufoca tanto e deixa tantos vestígios que às vezes, é difícil distinguir se é real ou apenas um grande vazio.

    Estou seguindo seu blog, gostei muito dos seus textos.
    Se quiser dar uma passada no meu: http://pansofiadistopica.blogspot.com/

    Abraço.

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